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Estórias que só existem quando contadas

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"Estórias que só existem quando contadas”, reúne contos ambientados em Minas Gerais, com narrativa que atravessa assuntos da atualidade como a crise ambiental, a imigração, a desumanização e até o carnaval de rua. Trazendo na capa o bordado “Rio Doce” de Cassia Anacleto, a obra propõe um mergulho no universo ficcional onde o absurdo pode se tornar verdade quando contado ou comparado a acontecimentos da realidade.

SEGUNDA EDIÇÃO ARTESANAL

Encadernação japonesa, capa com serigrafia e bordado que remete simbolicamente ao mote do primeiro conto da obra: o rompimento da barragem do fundão em Mariana (MG) e a contaminação do Rio Doce, um dos maiores crimes ambientais já cometidos em nosso país.

Medidas: 12,5 cm X 21,0 cm / Orelhas: 8cm
Miolo: 74 paginas, papel pólen soft.
Editora: Quicelê. Ano 2018. segunda edição edição (artesanal). 

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Valor: R$ 30,00 - frete grátis para todo Brasil.

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PRIMEIRA EDIÇÃO (esgotada)

 
Informações técnicas: 


Medidas: 12,cm X 19cm / Orelhas: 8cm
Miolo: 74 paginas, papel pólen soft.
Editora: Quicel. Ano 2017. Primeira edição. 

Livro publicado de forma totalmente independente pela editora do próprio autor que, além de escrever os textos, fez todo projeto gráfico da obra com a utilização de softwares livres. A capa traz a imagem de um bordado feito a mão sobre linho por Cassia Anacleto.

Medidas: 12cm X 19cm / Orelhas: 8cm
Miolo: 74 paginas, papel pólen soft.
Editora: Quicelê
ISBN: 978-85-5605-003-8

 


Leia um conto do livro


MERGULHO NO RIO DOCE

Naquele ano em que estive pela última vez com a Marta, não faz tanto tempo assim, Belo Horizonte já havia evoluído com carnaval de rua e tudo.

O trem que cortava as cidades de Minas até chegar ao Espírito Santo é que preservava algum passado. Ainda com janelas abertas, era possível andar pelos corredores e fumar nas varandinhas que ligavam um vagão ao outro. O ar mineralizado vindo dos grandes buracos escavados nas montanhas, como ainda acontece, podia entrar pesado em nossos pulmões pacíficos. Era bem diferente de agora que tem essas janelas lacradas, ar condicionado gelado, clima seco e sem direito de fumar um cigarro sequer. Contam que pessoas se jogavam daquelas varandinhas enquanto o trem passava em alguma ponte e que por isso fecharam tudo. Puro cinismo mercantil para justificar as mudanças que vieram com a privatização, a higienização do trem para maquiar a sujeira lá de fora. Eu mesmo nunca soube se isso, de gente pulando para fora da vida, aconteceu de fato no trem. Confesso que, naquela última viagem com a Marta, cheguei a pensar em pular e levar ela comigo. Sem soltar a mão dela nunca mais. Eu proporia um pacto de amor e morte. Mas era impossível. A Marta já não respondia nada. Naquele dia seguia comigo para Governador Valadares praticamente arrastada.

Era uma manhã de verão. Nem seis horas e estávamos em frente a estação de Belo Horizonte. Enquanto esperávamos abrir os portões, dava para observar o carnaval. A decadência no que restava dos últimos blocos da noite passada. Copos, garrafas, sacos plásticos, baratas, ratos, cheiro de mijo, vômito, jovens homens e mulheres. Como zumbis, arrastavam-se pelas ruas de pedras. Cantando versos de protestos contra um prefeito, uma praça, uma rua, não me lembro ao certo contra o quê faziam aquela festa. Havia algo de nostálgico e niilista, como se fosse um resgate do que nunca existiu na realidade. Pelo menos na capital mineira. Saudosismo à boêmia com catuaba, açaí e banho de caminhão pipa na Praça da Estação. “Olha amor, e se fôssemos assim?” cheguei a comentar com a Marta “Felizes fantasiados cambaleando de mãos dadas, caindo pelos cantos destas ruas imundas. A decadência, ela poderia nos salvar.” e ela nem se mexeu, como eu já esperava. Só pensei que, de alguma forma, ela poderia ficar contente com as fantasias. Apesar de tudo, eram divertidas.

O trem partiu às sete, pontualmente como de costume. Pelas janelas passavam alguns rostos tristes dando adeus, outros felizes esperando um retorno dos que saiam de férias. Ritmo lento. As pessoas se ajeitando, andando pelos corredores para reconhecer o lugar e ver outras pessoas. Tomar café no vagão-restaurante. O interessante de andar dentro do trem era que, os vagões estavam divididos entre classe econômica e executiva. Eu sempre preferi a econômica pelas janelas abertas. A executiva, além do ar condicionado, possuía o clima da preguiça típica que se vê na cara dos que se acham melhores que os outros. Aparências, apenas. Era possível deslocar-se de uma classe a outra e permanecer em assento diferente até entrar mais passageiros nas estações seguintes. Sempre houve lugares sobrando nas duas classes. Quem dera a vida fosse assim, com oportunidades de transitar entre classes com um bilhete econômico.

Quando chegamos na terceira estação, já em Rio Piracicaba, entrou um matuto, parou perto de nós e ficou ali de costas arrumando a bolsa no bagageiro superior. Nem olhou para trás e veio sentando em cima da Marta.

- Ei, ei, olha onde coloca essa bunda. - Protestei agressivamente.

- O senhor me desculpe, não vi que estava ocupado. - Respondeu olhando a Marta como se ela fosse uma coisa.

- Querida não se preocupe. - Acalmei-a com um carinho - Logo tudo ficará bem. Lá não haverá esses desrespeitos.

- As pessoas são assim, veem apenas o que querem umas nas outras. O senhor me entende? Agora mesmo o senhor está aí esperando ver algo que já precipita na sua cabeça. Olha, eu sempre amei a Marta e isso é a única coisa que vai achar nessa história. Eu nunca fui culpado de ter terminado daquele jeito. Fiz por amor, e só.

No resto da viagem, ninguém mais nos incomodou. Só aquele matuto que não olhava onde colocava a bunda. Seguimos pelas estações até chegar em Valadares com aquele calor infernal e fomos direto para o Rio Doce. Era esse o objetivo da viagem. O senhor veja, não há nada de estranho nisso. As pessoas viajam para muitas coisas. Para descansar, visitar a família, a trabalho, para retornar a algum lugar ou para fugir de algum lugar. Eu viajava porque a Marta adorava aquele rio e lembrava-se da sua infância toda vez que íamos lá. Se ela visse hoje como ele está, contaminado, sujo de lama derramada por essas empresas. Essas sim, essas empresas, não têm amor nenhum pelas pessoas. Estão cheias de criminosos dizendo que possuem sentimentos. É mentira. Só querem sugar tudo nosso. Levar o miolo de nossas montanhas que estão todas ocas, as águas e até a nossa alma. Se eu soubesse que aquela lama seria derramada no rio, jamais teria deixado a Marta lá, no meio daquelas águas. Coitada da Marta. E eu disse que não haveria mais desrespeitos.

Esperei a noite cair de vez e o movimento diminuir. Peguei um barquinho, a Marta, e a levei para o meio do rio. Ela estava linda, mesmo depois de uma viagem longa. Quando abri a mala parecia até sorrir em pedaços. Acho que foi o cheiro doce na memória do rio. Era mesmo doce? Não me lembro mais. A Marta ficou lá. Deu seu último mergulho para sempre e eu voltei à Belo Horizonte. Nunca me perdoaram por ter levado a Marta embora. Chamaram polícia, médico de doido... O senhor não me leve a mal, é que me fazem vir aqui falar a mesma coisa todo mês. Ninguém entende. Ninguém ouve. Tudo o que eu fiz foi por amor, era o desejo dela, doutor. Ser jogada nas águas do Rio Doce. Se eu soubesse que o rio se tornaria uma poça de lama, teria feito um velório e um enterro normal. Juro que teria. Coitada da Marta, no meio daquela tragédia.

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